Nos últimos meses, uma polêmica envolvendo a Nintendo ganhou destaque na indústria dos videogames: as novas patentes registradas pela empresa, que podem impactar diretamente o desenvolvimento de jogos em escala global.
Entre os registros, dois chamam atenção por sua abrangência: a patente sobre a invocação de criaturas em batalhas e a patente que envolve mecânicas de montaria. Mas afinal, qual o problema disso?
A patente sobre invocação de criaturas em batalhas
A primeira patente faz referência direta ao conceito adotado em Pokémon, onde personagens lançam objetos ou comandos para invocar criaturas durante combates. Segundo a Nintendo, jogos que utilizem esse tipo de mecânica estariam, em tese, infringindo a patente.
O problema é que esse sistema não é uma invenção exclusiva da Nintendo. Muito antes de Pokémon, franquias como Dragon Quest e Final Fantasy, além de outros RPGs que já utilizavam o conceito de convocar ou controlar criaturas em batalhas.
Curiosidade: Um dos primeiros exemplos dessa mecânica remonta a Shin Megami Tensei (lançado originalmente em 1987 no Japão), onde o jogador podia recrutar demônios para lutar ao seu lado.
Portanto, dizer que essa mecânica “pertence” à Nintendo é, no mínimo, uma distorção do que significa inovação no mundo dos jogos.
A polêmica patente de montaria
Outra patente ainda mais controversa é a que envolve montaria de criaturas ou veículos em jogos. A ideia de montar animais ou máquinas para se locomover é algo presente desde os primórdios da humanidade, com a domesticação de cavalos, camelos e outros animais de carga.
No universo dos games, essa mecânica também não é novidade: títulos como The Legend of Zelda, Monster Hunter, World of Warcraft, Skyrim e até mesmo os clássicos Shadow of the Colossus e Golden Axe já utilizavam sistemas de montaria muito antes desse registro.
Ao tentar patentear algo tão comum, a Nintendo abre um precedente perigoso: tornar mecânicas básicas de gameplay propriedade exclusiva de uma empresa.
Impactos na indústria dos games
Se essas patentes forem realmente validadas e aplicadas, o impacto pode ser devastador para os desenvolvedores, especialmente os estúdios independentes. Isso porque:
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Limita a criatividade: mecânicas comuns ficariam restritas a grandes empresas.
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Eleva custos jurídicos: pequenos estúdios poderiam enfrentar processos ou precisar pagar licenças.
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Cria insegurança no mercado: desenvolvedores evitariam arriscar mecânicas inovadoras por medo de violação.
Essa prática levanta um debate urgente: até onde vai a proteção da propriedade intelectual e onde começa o bloqueio da inovação?
A crise moral da indústria
Além das patentes, a indústria dos games já enfrenta uma crise de confiança. Jogos estão cada vez mais caros, recheados de microtransações, entregando menos do que prometem e priorizando lucros em detrimento da experiência do jogador.
Ao tentar controlar até mesmo as mecânicas básicas de jogabilidade, a Nintendo corre o risco de reforçar ainda mais essa crise “moral” e perder o apoio da comunidade gamer.
E agora, qual o futuro?
É difícil prever até onde a Nintendo irá com essas patentes, mas especialistas já questionam sua validade. Muitos apontam que existem precedentes de “arte preexistente” (ou seja, jogos anteriores com as mesmas mecânicas), o que pode enfraquecer a legitimidade desses registros.
Para que isso não vire tendência, seria necessário:
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Maior rigor dos órgãos de patentes, para evitar registros absurdos.
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Mobilização da comunidade gamer e desenvolvedores contra práticas que limitam a inovação.
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Um debate aberto sobre o papel da propriedade intelectual nos jogos.
Conclusão
Sou fã da Nintendo e de franquias como Pokémon e Zelda, mas neste caso específico, fica difícil apoiar esse tipo de prática. Patentes assim não protegem a inovação — elas a sufocam.
Se a criatividade for engessada por regras corporativas, quem perde somos todos nós: jogadores, criadores e a própria indústria.
E você, o que acha? A Nintendo está apenas defendendo sua propriedade intelectual ou passou dos limites ao tentar patentear mecânicas comuns?
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