quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Kira em Death Note: Justiça ou Tirania? Analisando os Limites e Efeitos das Ações de Light Yagami

Desde o lançamento de Death Note, uma das maiores discussões entre os fãs é: Kira estava certo? 

Light Yagami, ao descobrir o Death Note, decide usá-lo para eliminar criminosos e construir um “novo mundo” livre do mal. Sua meta inicial parece nobre, mas rapidamente se transforma em um conflito entre justiça e tirania.

A obra de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata se destaca por provocar uma reflexão sobre ética, poder e consequências, mostrando como até as melhores intenções podem gerar resultados perigosos.


A eficácia das ações de Kira

Durante o mangá e o anime, vemos que as taxas de criminalidade caem drasticamente após a aparição de Kira. O medo se espalha, e muitos criminosos desistem de agir. Esse resultado desperta questionamentos entre os próprios personagens — em especial Touta Matsuda, membro da Força-Tarefa que investiga Kira.

No Capítulo 108 do mangá, Matsuda expressa sua dúvida moral:

“Ainda acho que Kira estava errado...
Mas se não fosse por ele, a sociedade não seria como é hoje.
Mesmo agora, as pessoas ainda têm medo de cometer crimes.
Não posso dizer que ele estava totalmente errado.”

Essa fala resume o dilema central da obra: Kira estava errado em seus métodos, mas sua presença deixou um impacto duradouro na sociedade, criando um mundo mais cauteloso e controlado pelo medo.


O preço da “nova justiça” de Kira

Apesar dos resultados visíveis, Light Yagami ultrapassa todos os limites ao eliminar inocentes e opositores. Sua crença de que é o único capaz de julgar o que é certo ou errado o transforma exatamente naquilo que ele dizia combater. O problema, portanto, não está apenas no objetivo de criar um mundo melhor, mas principalmente no método usado para alcançá-lo.

A justiça de Kira é construída sobre o medo absoluto. Embora traga resultados imediatos — como a queda nas taxas de criminalidade —, esse tipo de paz se sustenta em um equilíbrio frágil, pois não transforma a natureza humana, apenas a reprime. Ao se declarar um “Deus”, Light perde gradualmente sua humanidade, e seu ideal de justiça se torna um instrumento de dominação, e não de equilíbrio.

Esse mesmo dilema é abordado em Naruto, através da filosofia de Pain (Nagato), que acredita que somente o sofrimento e o medo poderiam ensinar a humanidade a valorizar a paz.
No entanto, como o próprio enredo sugere, uma paz construída sobre o medo possui prazo de validade — com o tempo, o temor se enfraquece, e o ciclo de violência tende a recomeçar.
Essa ideia reforça que a paz imposta jamais substitui a paz compreendida.

Em breve, traremos um artigo completo apenas sobre Pain e sua filosofia.


O medo como instrumento de controle

O medo é um dos instintos mais básicos de sobrevivência. Quando as pessoas temem punições severas, muitas se afastam do crime. Em Death Note, essa ideia é levada ao extremo — a simples menção ao nome “Kira” já basta para manter a ordem. 

Em termos práticos, esse tipo de controle realmente reduz a criminalidade, mas cria uma sociedade baseada na obediência por intimidação. É uma paz frágil, sustentada não pela mudança de valores, mas pelo temor constante de punição.


Kira e a realidade: reflexões possíveis

Transportar a ideologia de Kira para o mundo real é complexo. Cada país possui níveis diferentes de rigor nas leis e métodos distintos de punição. Em nações com altos índices de violência, medidas mais severas muitas vezes são vistas como necessárias para conter o avanço do crime. Contudo, a grande questão é como manter a justiça firme sem perder o equilíbrio moral.

Kira representa a ideia de que um controle forte e rigoroso pode restaurar a ordem.
Mas também serve como alerta: sem limites claros, qualquer poder pode se tornar tirania.


Conclusão: entre justiça e tirania

Kira não é um vilão simples, nem um herói puro. Ele representa uma justiça extrema, que busca eliminar o mal a qualquer custo, mas acaba se tornando parte dele. Matsuda, ao reconhecer que Light possuía boas intenções, evidencia o dilema central da obra: a linha entre justiça e autoritarismo é tênue — e, muitas vezes, quase imperceptível.

Em última análise, Death Note não oferece respostas absolutas, apenas questionamentos profundos sobre a natureza da justiça, do poder e da moralidade. Talvez essa seja sua maior força: nos levar a refletir sobre o preço de uma justiça absoluta e o quanto estamos dispostos a abrir mão de princípios éticos em nome de um mundo aparentemente mais seguro.

Afinal, cada sociedade enfrenta seus próprios dilemas e desafios. Em certos contextos, as soluções mais eficazes podem ser controversas, difíceis ou até desconfortáveis — mas o verdadeiro teste está em equilibrar firmeza e humanidade, para que o resultado final realmente beneficie o povo sem destruir os valores que o sustentam.

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